29 de agosto de 2009

Boas ações

Sempre parte-se do princípio de que uma boa ação é algo em torno de ajudar velhinha a atravessar rua ou dar telefonema pago pra Criança Esperança. Porém, o conceito de solidariedade pode muito bem ir além disso. Podemos proporcionar felicidade ao próximo sem que aparentemente esssa pessoa esteja em dificuldades.

Hoje, por exemplo. Ao ir para o trabalho, entrei na barca já na leva da metade para o final da multidão. Fui à parte de trás na esperança de achar lugar, pois tava doido pra tirar um cochilo. Avistei os dois únicos vazios, ambos nas segundas cadeiras do corredor para dentro, um à minha esquerda e outro à direita.

Ao me aproximar, olhei para o da esquerda e percebi que o cara da cadeira do corredor olhava fixo para trás de mim, com um ar guerreiramente nervoso, típico de um ninja da chegação. Na hora, do alto dos meus 15 anos de barca, deduzi: havia uma gata ali. No mesmo relance, olhei para o lado direito, e lá tinha um sujeito também, mas candidamente lendo a Bíblia. Não deu outra: ali na hora um espírito solidário baixou em mim e, sem perder tempo, sentei ao lado do rapaz religioso, induzindo a mulher a sentar ao lado do Guerreiro da Guanabara.

O que ganhei com isso? Simples. Na hora, me lembrei de quando era solteiro e fiz ao próximo o que eu gostaria que fizessem comigo. Uma lei universal, aplicada em uma situação não muito usual, mas significativa. Se isso não é uma forma de pensar no próximo, então eu não sei mais o que é.

Detalhe da foto: já passei para a reserva, mas sei que a Baía de Guanabara, embora tenha águas calmas, é passível de guerra. Proporciona pouco tempo para o ataque, mas é.

26 de agosto de 2009

Chinelada

Ontem, quando vi Eduardo Suplicy mostrando o cartão, falei: "- Agora é fácil reclamar, e ainda fazendo cena. Ficou quietinho até agora..." E falei isso decepcionado, pois dele sempre espero combatividade, coerência e um "ligar o foda-se" tão necessário.

Porém, nessa hora eu estava ao lado do meu pai, que me repreendeu: "- Quem disse isso? Não fale sem saber. Ele não ficou quieto. Foi porque a imprensa não mostrou."

Aí eu me toquei de uma coisa. Meu pai, nos seus quase 80, tem um hábito muito saudável, além de caminhar todo dia bem cedo: ele assiste às TVs Senado e Câmara. Sabe que, se depender da edição dos telejornais, fica mais ignorante que kamikaze perdido em ilha do Pacífico.

Esse hábito, na verdade, não vem de hoje. É uma reedição eletrônica de um outro que as pessoas perderam, por causa da mudança da capital a Brasilia: acompanhar e pressionar o Congresso durante suas sessões. Ele mesmo já viu muitas delas, quando eram no Rio. Nessa época, o quebra pau não ficava somente no plenário, mas também na platéia. Antes era muito mais fácil dar uma de Collor com o próprio Collor. Hoje não. Lá em Brasília, naquele isolamento, é muito complicado. Eu vi isso ao vivo, pois morei lá, ainda que por poucos meses.

Ou seja: a nossa classe política vive uma lógica parecida com a de criança encapetada: se não tiver quem ameace com uma havaiana, fudeu. E tem que ser com a de pau, aquela da internet, porque se for com as outras, vai continuar fazendo merda sem parar...

25 de agosto de 2009

Três

É fato: o Fluminense perdeu o rumo depois da pesquisa Lance/Ibope, feita alguns anos atrás, quando apareceu na quarta colocação entre as torcidas do Rio.

A partir daí, surgiu uma obsessão quase que paranóica em ser o terceiro. Experimente falar disso a um tricolor. Tal qual um vascaíno, ele subirá nas tamancas.

Pior é que o número três passou a povoar o universo laranjeiral. Um exemplo é a batalha tricolor para conquistar a sua terceira queda à segunda divisão, e pra agravar, em menos de 15 anos. Coisa que, se algum dirigente não coçar fortemente o bolso, tem tudo para realmente acontecer. Essa é uma luta inglória, mas que os outros três grandes do Rio estão torcendo por vocês...

24 de agosto de 2009

O povo também deveria gostar disso

Como há o outro lado da putaria - e falo do ruim mesmo: política, economia etc -, deixo aqui uma sugestão de leitura em jornalismo: Le Monde Diplomatique, em sua edição brasileira.

Esta publicação conta com diferenciais que considero muito importantes: conteúdo vindo de suas sucursais pelo mundo, sem aparentes vícios de interesses locais, e análise dos problemas baseada muito mais na estrutura, e não em opiniões particulares, ainda que sejam bem embasadas.

É um bocado diferente do que acontece com jornais e revistas brasileiros mais independentes, que, na minha opinião, muitas vezes trocam análise crítica por assumir posição contrária, no sentido partidário mesmo. Fora que, para passar consistência, dão um peso excessivo a entrevistas, quase como se esta fosse a linha editorial.

Se puderem ler, recomendo. Le Monde Diplomatique é pra deixar na sala. Já a revista da postagem abaixo...

21 de agosto de 2009

É disso que o povo gosta

Pausa para um papo de pé-sujo depois do futebol.

Como agora o povo realmente tem vez, pelo menos na tevê aberta, nas bancas e nos camelôs de DVDs, eu acho que deveria ser criado um troféu: É Disso Que o Povo Gosta.

O local de entrega, em vez de serem os sofisticados MAM e Theatro Municipal - este, até a Contigo! escolheu pra entregar o seu troféu -, seria a Via Show.

O primeiro a receber, como todos os méritos, seria o jornal Meia Hora, pela sua revista A Gata da Hora. Inclusive pelos serviços prestados à masculinidade em geral, que vem sendo massacrada pela pretensão artística cada vez maior da Sexy. E, é claro, pela decadência irreversível da Playboy, uma publicação definitivamente voltada para Beckhans e Gianechinnis, homens que inevitavelmente mandam a bola na trave.

Democracia é isso: do povo, pelo povo e para o povo...

20 de agosto de 2009

O sonho de __ era ser __ - parte 36

O sonho do Zeca Camargo era ser o Pedro Bial.

O sonho do Muricy Ramalho era ser o Telê Santana.

O sonho do Maicon era ser o Cafú.

O sonho do Robertinho do Recife era ser o Yngwie Malmsteen.

O sonho do Serginho Groisman era ser o Peter Pan.

Gestão

Esse termo virou mais uma praga dos vocabulários moderninhos. Se me perguntarem o que é gestão, eu direi que é um gesto grande. E nunca um grande gesto.

O que é gestão? O que é gestor? A cada dia me convenço de que gestor é o chefe versão classe média/alta. Na prática, um mestre-de-obras pode ter muito mais tato com seus comandados do que um FDP egoísta à frente de uma equipe de executivos. Porque instrução vem de escola, mas educação vem de índole e família.

Ou seja: na essência, tudo continua a mesma merda. Eufemismos corporativos à parte - e já escrevi sobre eles aqui - ou o cara é competente ou não é. Ou sabe mandar ou não sabe. Ou é gente boa ou não é. E mesmo que seja, só colocará o dele na reta para impedir uma injustiça se isso não for atingí-lo.

No mais, segue a vida e bate-se o ponto. E sem direito a dindim de hora extra...

19 de agosto de 2009

Juízo Final

Se 11 de setembro acontecesse hoje, e os terroristas quisessem causar estrago de verdade, eles não mirariam nas Torres Gêmeas e nem no Pentágono. E sim nos data centers e provedores das mega empresas de internet. Imagine o tamanho do auê. Você não conseguiria atravessar uma rua sequer, porque até sinal da esquina tá nessa. Ia parecer cena de filme de juízo final, com zumbis esfomeados e tudo mais.

Com essa "Nuvem da Internet", basta um Zé Mané qualquer apertar um botão errado pra tudo se escafeder. E se alguém achar exagero, eu mesmo já soube de um caso - espantosamente verídico - de um maluco que simplesmente apagou os registros de um mês inteiro na Telemar, alguns anos atrás, que estavam em uma fita dat. Acredite...

Ah, mas nas empresas mais modernas existe um sistema de backup perfeito, diriam uns. Mas e os prédios inteiros, a estrutura física em si, onde os dados ficam guardados? Eles não contam com nenhuma proteção efetiva em caso de guerra ou terrorismo.

Isso dificilmente acontecerá no Brasil porque na prática não incomodamos de verdade quem realmente manda . Esse é o bom de ser merda: ninguém quer saber de você, logo ninguém enche o seu saco. Mas e os EUA? E a Europa? Em se tratando de Web e TI, um peido nesses lugares é uma caganeira aqui. Por isso, prepare-se desde já. Porque um dia um desses, um Al-não-sei-o-quê da vida vai ter uma brilhante ideia...

18 de agosto de 2009

Antônio Maria e a Internet

Antônio Maria foi um cara do caralho. Mas ele era tão do caralho, tão do caralho, que uma passagem de sua vida explica o que acontece com boa parte dessa geração obcecada por internet e tecnologia.

Certa vez, um poderoso, puto nas calças com as denúncias de Antônio Maria nos jornais, contratou um capanga pra dar um jeito de fazê-lo parar de escrever. E sabe qual foi a sua ordem? Quebrar os seu dedos.

E o cara fez isso. No dia seguinte, Antônio Maria ditou mais um artigo sobre o mandatário, zombando-o pelo fato de achar que as ideias vêm dos dedos, e não do cérebro.

Eu acho que esse deslumbre todo com os novos instrumentos vai por ai. São impressionantes? São. Facilitam vida? Sim. Mas são instrumentos, e como tais precisam ter propósitos. Não existem por si mesmos. Se não tiverem consistência de verdade, viram obras de Maluf, com muito tamanho e pouca repercussão social.

Viadagens internéticas

Cara, que viadagem é essa de dizer como se sente naquela mensagem de MSN.

Que uma mulher faça isso, ainda vai. Agora, um marmanjo ficar escrevendo: Hoje estou feliz... Quero que o mundo se acabe... ou Amanhã é o grande dia... não rola.

Se o sujeito ainda colocasse uma zoação maneira ou um Mengão Campeão, tudo bem. De resto, é melhor assumir de vez e virar logo um Max Fivelinha.

17 de agosto de 2009

Pés e mãos

O Flamengo meter os pés pelas mãos não é surpresa alguma.

Surpresa mesmo é o que o guarda (ou abre)-metas do Fluminense vem fazendo: ele literalmente mete as mãos pelos pés. O fato é que eu nunca vi um goleiro querer defender tanto usando os pés. Nem em pelada em que a rapaziada se reveza no gol, por pura falta de opção, eu vi um negócio desse.

Com esta ação em prol da zoação alheia, os tricolores conseguem ficar sem saber onde enfiar a cara ainda mais do que flamenguistas e botafoguenses. Muito obrigado, FH.

Detalhe da foto: apesar de toda zoação aos tricolinhos, não podemos esquecer de uma coisa: os vascaínos é quem estão na Segunda Divisão .

11 de agosto de 2009

PQP

Marina Silva deve mesmo ir para o PV. A excelente senadora não está nada à vontade no que sobrou do PT.

Porém, ao mudar de partido, ela vai dividir a sigla com quem? Sarney Filho em Brasília e Sirkis no Rio. Um, o filho do homem. O outro, ex-carbonário que recentemente foi Secretário de Urbanismo de Cesar Maia. Nem preciso me estender sobre isso.

Coitada. Logo ela, defensora de tantos animais, ficou nessa de "Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come".

Alívio tricolor

Os tricolores cariocas devem estar às lágrimas de tanta felicidade.

Imagine saber que outro time de massa - o Santa Cruz, a maior torcida de Pernambuco, e que tem um dos maiores estádios particulares do Brasil - conseguiu cair abaixo da terceira divisão. E pior: não consegue sair de lá.

Agora os tricolinhos vão poder dizer: - Ah, mas o Santa Cruz foi mais fundo do que a gente...

10 de agosto de 2009

Som na caixa, Mané

Esses dias, a coluna Gente Boa falou do... do... saxofonista que fica numa das saídas da Estação Carioca do Metrô.

O rapa teve ali e o proibiu de... de... tocar. Com direito a foto e texto enormes, em destaque mesmo.

Nada contra ele, mas ninguém reparou que esse cara não toca porra nenhuma? E que ele nunca chega sequer a um quinto das músicas que começa? Até eu tô querendo uma vida assim...

6 de agosto de 2009

Fiscais do Sarney

Ao ver a indignação geral da nação com as picaretagens de Sarney no Senado, foi inevitável lembrar da maior produção em série de otários da história brasileira: os Fiscais do Sarney.

Mesmo com toda euforia democrática, como pode uma pessoa adulta, um mínimo informada, não suspeitar de um político como ele, que sempre apoiou a ditadura? Ou de um governo composto pelos mesmos caciques de antes?

Nessa época, eu estava no início da adolescência - fase naturalmente ingênua. Mas graças a Deus eu tive uma família que deu condições de me informar adequadamente, não vendo somente JN. Agradeço muito a eles. Por isso, lembro que, no dia seguinte ao lançamento do pacotão, eu era o único no supermercado que não carregava listinha de Fiscal do Sarney. Porque eu sabia que aquela papagaiada toda não daria em nada. Nem imagine como fiquei perplexo com aquela credulidade generalizada.

Dizem que não devemos renegar baranga alguma que já pegamos. Mas essa vergonha, se eu tivesse passado, não contaria hoje de jeito nenhum.

4 de agosto de 2009

União Nacional dos Enganadores

Numa eleição pra DA da minha primeira faculdade, o nosso grupo de amigos fez uma chapa pra zoar com a outra, composta pelos engajados de sempre. Foi uma das fases mais divertidas lá dentro. Teve até material de campanha, e melhor do que de muito humorista por aí.

Da parte deles, a acusação é de que éramos descompromissados com os problemas da universidade, do ensino em geral, do quadro político do país, além de caras-de-pau e fanfarrões. Queríamos, segundo eles, curtir com a fuça de todo mundo, pensando somente em nós mesmos.

Hoje, quando vejo a postura servil e interesseira da UNE diante do atual governo federal, tenho certeza de que eles, na verdade, estavam fazendo análises certeiras dos altos dirigentes estudantis, e não acusando a gente...

Detalhe da foto: você chegou a ser um cara pintada do Lindbleargh? Eu não...

3 de agosto de 2009

Rochinhas

Rochinha foi um personagem criado por Jô Soares nos anos 80. Pra quem não viu, era um gordo bobalhão e pobre que pegava a Magda Cotofre, uma das mais homenageadas de então.

Provavelmente, era um alter ego feito por vingança, já que pobreza definitivamente nunca fez parte da vida do seu criador. Acredito que tenha sido aquela vontade insconsciente de chegar a todos e dizer: "- Se eu fosse pobre, seria do mesmo jeito. " Fazer o quê.

Pois os anos 80 acabaram - graças a Deus - e hoje temos centenas, milhares de Rochinhas, só que da música, e com a diferença de que ninguém vê os problemas evidentes. São, obviamente, os DJs que acreditam ser realmente músicos, e dos bons, mesmo sem saber tocar uma caixa de fósforo que seja.

Tais qual o Rochinha, eles recebem um excelente retorno pelo que fazem, sem a menor explicação razoável pra isso. Essa é a vida. O resto, tem mais é que acordar cedo, pegar condução e trabalhar.
Sinceramente, não dá pra entender o Nelson Motta.

Estar aberto às novidades é uma coisa. Outra é ficar elogiando esse povo que coloca batidinha dance em MPB. Pior é isso vir de um cara com uma história tão ligada a grandes compositores e cantores, há mais de 40 anos.

Mas a desgraça não para por aí: dessa ladeira abaixo na música nasceu a geração "MPB Lounge", essa malice vazia que não apresenta nada de novo e faz a maior pose de vanguarda. Benzadeus, minha Nossa Senhora.