26 de janeiro de 2010

Palavras onde faltam ideias - 4

Agronegócio – Um dos melhores eufemismos que já vi. São os latifúndios que conhecemos das aulas de história e geografia, só que agora produzindo muito mais, e exclusivamente para exportação. E, é claro, comandados à distância por engravatados, ao invés dos coronéis mascadores de fumo de outrora. Até os representantes no Congresso se sofisticaram. Agora eles se apresentam com um também ótimo eufemismo: bancada ruralista.

Mercado – Não me refiro à definição clássica do marketing ou da economia, que se refere ao conjunto ou a parcela de consumidores, e sim a que aparece na editoria de economia do Jornal da Globo ou no Conta Corrente, da GloboNews. Em verdade, em verdade, essa massa indefinível que povoa o mundo das finanças compõe-se de meia dúzia de empresários e especuladores. E, se algo estiver fora dos trilhos, resolve tudo com dois ou três telefonemas. Isso se apresenta com nomes como incentivos ou renúncias fiscais ou novos impostos que onerem a concorrência.

Reduzir déficit público – Cortar verbas de educação, saúde, saneamento básico, crédito ao pequeno, microempresário ou agricultor, mas sem sequer chegar perto de um combate efetivo à corrupção, verdadeira draga das finanças públicas. Aliás, se o objetivo é arrecadar melhor, por que não regulamentar o imposto sobre grandes fortunas – previsto desde a promulgação da atual Constituição- e que nunca sai do papel?

Jogador contratado para compor elenco – É o mediano pra baixo que um empresário empurrou – poderia perfeitamente ter um recém-juvenil no lugar - pra ver se consegue vender a um time menor em Portugal, Rússia, Bélgica ou do Oriente Médio. Quem sabe, até da Coreia ou Japão. Aí, como em terra de cego quem tem olho é rei, eles vão lá e se dão bem. Não menos que o empresário, é claro.

Jogador que recuperou a alegria de jogar – essa eu vou até dar espaço pra enumerar:

1) é farrista, estava num clube que não é uma bagunça, e foi para outro onde ele pode ser farrista.

2) é farrista num clube farrista, estava com salários atrasados ou com um técnico sério. De repente, passou a receber em dia ou o técnico sério foi mandado embora. Ou os dois, para a alegria de jogar ser ainda maior.

3) farrista que passa a correr porque faltam três meses pra vencer o contrato, e não quer perder a bocada.

Ou seja: mais alguns dos eufemismos para jogador do Flamengo.

18 de janeiro de 2010

Filmes românticos

Mesmo com o advento e alastramento do metrossexualismo e fashionismo, e a perda progressiva do significado negativo da sensibilidade masculina, ainda persiste uma constatadora verdade verdadeira: 99% das mulheres não acharia nada ruim se os homens em geral entendessem realmente de roupas ou gostassem de filmes românticos.

Quanto à primeira opção, a chance de acontecer comigo é zero, pois entender mesmo mesmo presume gostar, e shopping pra mim é caminho pra cinema ou passagem em dia de muito calor. E roupa se divide entre as quentes, frias e os uniformes do Flamengo.

Quanto à segunda opção, gostaria aqui de derrubar um mito, e até mesmo preconceito das mulheres: homem pode gostar de filmes românticos, sim. Basta seguir uma divisão que considero muito sensata, e escolher quais podemos apreciar. Acompanhe meu raciocínio: eles se dividem, basicamente, entre os bonitos, os bonitinhos e os bonitíssimos.

Os bonitos são os que têm uma boa história sem cair em meninices, e isso pode abranger desde “Doutor Jivago” a “Carne Trêmula”. Os dois, aos seus jeitos, contam inquestionáveis histórias de amor, mas alcançando o ponto certo, mesmo sendo muito românticos. Ou como se classifica a saga do ex-presidiário para conquistar sua amada depois de tantos anos, no filme de Almodóvar? E o tema de Lara, quão bela e tocante pode ser uma canção? O engraçado é que, grosso modo, no primeiro filme citado o protagonista literalmente pula a cerca, com Revolução Russa, nevasca e tudo mais. E no segundo, o herói injustiçado passa quase todo tempo transando com uma mulher que não é o seu verdadeiro amor...

Os bonitinhos, elejo “Nothing Hill” como um possível representante. Estão lá as reviravoltas bonitinhas, a trilha bonitinha e até Julia Roberts, tão bonitinha que nunca mostrou um peitinho sequer no cinema. Inclusive, veja só, no filme a sua personagem entra em crise justamente porque os exibiu no passado. E para contrabalançar tanta bonitice, e fazer os homens gostarem do filme, o esperto roteirista pôs um impagável amigo do galã, que ao final consegue pegar alguém. Feia feito o capeta, mas consegue. O que só eleva o bonitismo, pois reforça a ideia de que valemos pelo que somos por dentro.

Finalmente, os bonitíssimos. Entre eles, selecionei “P.S.: eu te amo”. Esse é tão bonitíssimo, mas tão bonitíssimo, que o galã faz uma brilhante obra de logística pós-morte para não só consolar a viúva, como reestruturá-la, ensinar a viver e até empurrar para um amigo bonitão. É o suprasssumo do que uma mulher espera de um homem - amor até na ausência - filmado da forma Ai que fofo, ai que lindo. É até um perigo assistir ao lado da ficante/namorada/patroa. Porque se você, homem, diz que não gostou, acaba passando por um insensível-neanderthal-comedor de biscoito Torcida.

Enfim, é possível sim um homem gostar de filmes românticos. É só fazer uma pré-seleção dentro dessas subdivisões claras, isentas e bem coerentes, e fazer a sua opção. E as mulheres, se lerem essa postagem de coração aberto, quem sabe um dia verão esse gênero com um olhar diferente. Talvez mais um pouquinho só mais perto do da gente...

Rúlio Lopez


Além de galã, rico e conquistador irresistível, o nosso Secretário Estadual de Transportes nos revela mais uma de suas intermináveis qualificações para um cargo público: a profunda religiosidade.

Ele deve levar tão a sério o preceito da Bíblia "ganharás o pão com o suor do teu rosto", que resolveu estender ao corpo todo para os usuários das Barcas. Durante esses dias de calor senegalesco, todos saem completamente ensopados das embarcações que substituíram as antigas,  simplesmente porque elas não têm ar refrigerado, embora as saídas de ar para isso estejam à olhos vista de todos. Isso porque, segundo o discurso oficial, esses "ases do mar" chegaram para trazer muito mais agilidade e conforto.

Diante desse completo cagar e andar das autoridades, deixo aqui uma sugestão para o Bon Galan do Rio: em vez de socialites, quem sabe um dia ele não experimenta pegar uma Barca?

15 de janeiro de 2010

Gerando pelassaquices

Eu nunca me preocupei em moderar comentários porque, como dizia Vicente Matheus, quem tá na chuva é pra se queimar. Mas, por respeito a quem já comentou e um dia pretende fazer isso, tô avisando que tive de passar a moderá-los. Mesmo que eles apareçam a cada translação da Terra....

Isso não aconteceu para barrar opiniões opostas. Mas é que um(a) doido(a) mala que desconheço andou mandando mensagens sem sentido algum, insistentemente, enchendo o saco mesmo. Aí, como o blog é meu, e com ele faço o que eu quiser, usei esse expediente pra pôr um limite. Como diz o ditado, o problema não é acontecer, é quantas vezes acontece. Até deixei alguns aí embaixo pra dar uma ideia do que tô falando.

De resto, se alguém quiser comentar, tranquilo. Eu vou receber por email e liberar. Obrigado e beijos e abraços de coração.  

14 de janeiro de 2010

A natureza e o Haiti

Tragédias vendem jornais, análises sociopolíticas e econômicas não.

Deve ser por isso que não foi dado destaque a um fato mórbido: a maior parte dos estragos do Haiti não teve origem unicamente na força do terremoto, e sim no despreparo do país para enfrentar um acidente geológico como esse, que não tinha nada de imprevisível.

Se fosse na Califórnia ou no Japão, as construções resistiriam muito mais e o número de mortos seria bem menor. Já no Haiti, é diferente. Infelizmente, esse pobre país pobre não passa de um grande latifúndio de empresas americanas, com uma elite corrupta até a alma que não tem projeto de nação. É como um pequeno estado nordestino, mas sem o governo federal pra bancar as aposentadorias e fomes zero, que são a salvação de muita mulambada. 

E a culpa dessa catastrofe, para todos que só dão uma olhada rápida nos jornais, acaba sendo da natureza. Pior: a quantidade de pessoas que vivem essa rotina só aumenta...

7 de janeiro de 2010

Nem tudo está perdido

Pra não dizer que só sei reclamar, 10 a zero pra Vila Isabel esse ano, ao entregar a Martinho da Vila a criação do enredo e samba-enredo, que sabiamente homenageam os 100 anos de Noel Rosa.

Sabiamente se tomarmos a Mangueira como parâmetro, porque qualquer pessoa com um mínimo de bom senso também faria isso. Mas, de qualquer forma, merece todos os aplausos. É um respiro para o carnaval.

Eu sou burguês, mas eu sou sambista

Perfeito que faz Fortuna com marchinhas, Aécio Never em camarote da Mangueira, bloco funkpopmamulengorrock, Suzana Vieira suada dando entrevista aos berros e, finalmente, os neolapenses que cresceram ouvindo U2, Kid Abelha e Lambada mas, num passe de mágica, viraram sambistas da gema, com direito a chapéu panamá, vestidos Clara Nunes de 500 reais e idolatria desenfreada pelas 5.830 Tias Nonocas que as escolas de samba do Rio têm.

É, recomeçou a temporada do carnaval carioca...

Detalhe da foto: depois da desfaçatez de não homenagear Cartola em seu centenário, a Mangueira resolveu se redimir e disse que não aceita Ângela Bismarchi nem pintada de ouro. Mas até lá, quem sabe o valor do grama não aumenta um pouco mais?

6 de janeiro de 2010

Teoria solteirística

Normalmente, as grandes descobertas da vida de um homem ocorrem em momentos de crise, proporcionados por acontecimentos dificultosos, sucessivos ou não, que nos levam a isso. Mas comigo, uma dessas ocasiões, e recente, foi propiciada pela Matemática. Logo eu, que na maioria das vezes só a uso para calcular preço de latas de cerveja e troco de barcas.

Estudando Estatística, me deparei com “amplitude”, entre os conceitos ensinados. Num estalo, elaborei uma teoria que comprova qual é a melhor fase da vida para estar solteiro. Antes que pense que fica entre 18 e 30, não é não. É de 30 a 35, pela amplitude de chegação que essa faixa permite.

O cálculo é simples. Aplique uma amplitude de 10 a 15 anos para essa faixa etária. A partir dela, você verificará que, na noitada, um cara de 30-35 pode pegar uma menina de 20 e poucos sem se passar por Tio Sukita. E, também, arrastar uma mulher de seus 40, 40 e alguma coisa, em bom estado academial, sem virar um namorado de Suzana Vieira.

Antes ou após essa faixa, as amplitudes tornam-se desproporcionais, obviamente tendo como parâmetro uma pessoa de comportamento médio da nossa sociedade, o que não inclui coroas e velhos endinheirados e também Marílias Gabrielas, já que esse raciocínio pode servir para mulheres, quem sabe.

Mas o melhor dessa teoria não é a descoberta em si, ou a aplicabilidade que ela possa ter a alguém. É que, sem perceber, não-intencionalmente, isso aconteceu comigo.

Deus, não sei como, mas um dia eu retribuo tamanha graça...

A verdadeira torcida do Flamengo

Todos já sabem da pesquisa. Oficialmente, a torcida com o maior percentual de pessoas com alta renda é a do Flamengo. É inconteste, inquebrantável, dogmático, axiomático.

Diante desse novo paradigma, fica a seguinte sugestão: em caso de gol contra o Hexacampeão brasileiro, que os gritos da torcida arco-íris mudem de "Ela, ela, ela, silêncio na favela" para "On, on, on, silêncio no Leblon"...