3 de maio de 2013

Porco capitalista


Quando eu era comunista pequeno lá em Barbacena, uma das minhas expressões favoritas era porco capitalista. Por razões mais que óbvias, eu só não aplicava ao Silvio Santos. De resto, todos os patrõezões no mínimo deveriam usar cartola, fraque, portar charutos feitos de dólar, todos sentados numa cadeira que, na verdade, é uma pessoa de quatro.

No entanto, precisou passar uma pá de anos para eu entender que nenhum dono de fábrica ou latifundiário era um porco capitalista. Mas o que mudou? Seria o tal sucesso econômico do Chile de Pinochet? Seria todos os partidos de direita se intitularem progressistas? Ou seria ver o termo empreendedor ser traduzido pra dono de negócio, ao invés de pessoa que faz e acontece, seja um empresário ou uma freira que construa um hospital do nada?

Nada disso. Fui descobrir que o tal porco capitalista existe sim, só que literalmente. É o bando de ronca e fuça que devora toda a safra da soja brasileira. Os porcos, especialmente os da China, têm tanta fome que fazem o grão brasileiro bater recordes ano a ano, ocupando a terra toda por causa disso. Para a alegria dos latifundiários, dos políticos amigos deles e dos palpitistas de economia. E para tristeza dos índios, jacarés, onças e araras que estavam lá e nunca quiseram sair. Ou dos pequenos e médios que antes plantavam feijão, mandioca e batata. E, é claro, pra sua tristeza também, que paga mais caro pela sua comida, por conta disso.

Assim como antes, quando ainda se caminhava e cantava seguindo a canção, a culpa é dos dos porcos. Porcos capitalistas...

Detalhe da foto: alguém avise pra ele que é soja, e não flores...