1 de outubro de 2013

Vamos a La Playa

Carinhoso já ganhou uma eleição de música preferida dos brasileiros. Há pouco tempo, Águas de Março foi eleita a mais importante por uma enquete do Estadão, com votação pela internet, mas baseada em pré-seleção dos críticos. Aliás, esse critério de escolher anteriormente o que será votado, no mínimo deve ser para evitar constrangimentos entre a tal elite intelectual. Porque, se fosse feita diretamente pelo povão caramuru mulambônico, talvez os vitoriosos fossem Pare de Tomar a Pílula, Eu Não sou Cachorro Não, Amor Perfeito (a do “no hospital, na sala de cirurgia...) ou essa aí do Naldo.
 
E mais: se gosto é que nem bunda, há que se respeitar sim. Até porque, já tem crítico conseguindo ver o que preste nos David Guettas da vida, o que no mínimo enfraquece qualquer coerência. E se tem gente que consegue ver bunda até na Gisele Bündchen, é porque gosto é feito bunda mesmo.
 
Por isso, me sinto à vontade de eleger aqui a melhor música em uma nova categoria. Não a mais bela, nem a mais vibrante. Nem a mais sensual ou politizada. E sim a mais funcional. A que, nesses tempos de eficiência, eficácia e efetividade, do império do Excel, cai como uma luva em infindáveis momentos de nossa vida, com uma capacidade formidável de uso.
 
Essa música é a oitentosa Vamos A La Play, do duo italiano Rigueira. Aqui no Brasil, gravada pelo grupo Bom Bom, que estava mais pra Ruim Ruim. E como a postagem anterior foi sobre o universo feminino - em sua defesa, é claro -, vou exemplificar esta escolha pelo ponto de vista masculino. Mas poderia ser de todos, é bom deixar claro.
 
Imagine um cara em casa, por exemplo, tendo de aturar a TPM da sua companheira. Para não explodir e piorar a situação, ele pode extravasar cantando mentalmente a melodia, mas substituindo a letra por:
Chata pra caralho, ô ô ô ô ô
Chata pra caralho, ô ô ô ô ô...
 
Ou, ao passar na rua com ela, diante de uma mulher estupidamente gostosa, ele pode assoviar a melodia após o momento de glória, com a letra na cabeça:
Boa pra caralho, ô ô ô ô ô
Boa pra caralho, ô ô ô ô ô...
 
Ou se a patroa está lá no shopping, gastando os tubos e conexões Tigre e Onça Pintada de Ouro. E você, impressionado com os preços exorbitantes, sem poder questionar como gostaria, porque o aborrecimento vai custar ainda mais caro, pode fazer o mesmo:
Caro pra caralho, ô ô ô ô ô
Caro pra caralho, ô ô ô ô ô
 
E por aí vai, apenas existindo o mínimo trabalho de encaixar palavras com duas ou três sílabas para cada situação, forçando a barra com quatro em casos extremos.
 
Quem diria que essa pérola do pop, que 30 anos atrás grudou chatamente feito chiclete na sola, fosse se revelar de grande serventia para aliviar o stress. Para todos os sexos, é bom frisar. Algo que, definitivamente, não é pouca coisa não...