Hoje é dia de um monte de gente dizer que é sambista. E pior, de raiz. Como se existisse rock de raiz, mambo de raiz, valsa de raiz e por aí vai.
Hoje é dia de todo mundo se gabar de fazer uma coisa trivial, particular, que qualquer um pode fazer: ouvir música.
Hoje é dia de você não poder criticar qualquer samba ou sambista, porque senão você se passa por herege.
Hoje é dia de você não dizer que o samba é como os outros tipos de música: tem mais compositor ruim do que bom. Muito mais.
Hoje é dia dos alternativos que não largam o osso reforçarem suas atitudes via música.
Hoje é dia da tia Nonoca ser chamada de gênio da humanidade porque frita pastel numa reunião de escola de samba.
Hoje é dia do Seu Dotô querer que todos o reverenciem, por fazer duas ou três músicas ou absolutamente nada.
Hoje é dia de falar bem de lugares insalubres, desasistidos pelo Estado, que nem cachorro deveria morar: as favelas.
Hoje é dia de um monte de pélassaco que não fala mais favela, mas comunidade.
Hoje é dia de lembrar que Dona Zica, mulher do Cartola, tinha o maior prestígio na mídia porque... porque... porque era mulher do Cartola.
Hoje é o Dia do Samba.