10 de abril de 2011

O fim do carnaval

Há pouco tempo, tivemos mais um carnaval. Mas eu afirmo, categoricamente, que não houve porra nenhuma, porque o carnaval acabou.

Essa afirmação pode parecer um purismo de velha guarda radical, para exaltar os tempos dos ranchos na Avenida Rio Branco. Mas não é.

Também pode parecer uma reclamação da péssima qualidade dos sambas enredos dos últimos 30 anos, que estão mais para marcha militar, tamanha aceleração e pobreza de melodias e versos. Mas não é.

O carnaval acabou porque me refiro especificamente aos compromissados, sejam casados, noivos ou namorados firmes. Para este tipo de ser humano, a festa pagã se torna um feriadão que apresenta blocos e bailes em muitas cidades por aí, e nada mais. Ou sossego matrimonial e quilos de comida em locais como Cambuquira, Bariloche, São Tomé das Letras ou Trindade. Porque o que caracteriza o carnaval é ser a festa da carne. O resto vem no pacote, apenas acompanhando.

Em termos práticos, carnaval traz um quê de promiscuidade inevitável. De fato, é a única ocasião em que um solteiro pode abordar uma mulher - e pegá-la - na mesma rua em que costuma passar pra comprar pão. Isso, às três da tarde, pra aumentar a intensidade do extraordinário dessa festa. Se ele fizer isso um dia depois, por exemplo, só terá sucesso se for de Brad Pitt pra cima, e olhe lá. O que, convenhamos, 99,99999% da população masculina não é. Olhando assim, é praticamente um conflito espaço/tempo que existe entre um compromissado e um solteiro. Num bloco, os dois podem estar lado a lado, mas não estão vivendo o mesmo evento. Parece até episódio de Além da Imaginação.

Por isso, se você não é solteiro, nem quero desanimar, mas apenas mostrar a verdade: o carnaval acabou. Você pode gostar de blocos, de bailes, mas não dá pra passar pela rua onde compra pão e chegar numa mulher, em plena três da tarde. Porque isto - e não blocos, escolas de samba ou Suzana Vieira na Sapucaí – é que é carnaval.

1 Comentários:

Anonymous Rodrigo Martins disse...

Game over. E boa sorte na piscina gelada. Com o tempo, pode ser que você se acostume. Ou não.
Abraço.

16 de abril de 2011 às 02:33  

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